Nem só de ambição se constrói uma marca. É preciso investir, planejar, ter bons produtos (aquilo que o consumidor deseja) e conquistar uma relação de confiança com esse público. Com essa receita, a Great Wall Motors, também conhecida pela sigla GWM, promete chacoalhar o mercado automotivo nacional.

Foi a primeira vez que a futura montadora, que ocupa as antigas instalações da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP) desde agosto passado, expôs seus planos. Com capital 100% privado, a companhia diz que vem ao Brasil montar a sua maior base de produção fora da China. Quer se tornar um centro de exportações para a América Latina e ajudar a desenvolver o mercado brasileiro, com tecnologia eletrificada e inteligente, em uma fábrica modernizada.

A linha de produtos, a partir do segundo semestre de 2023, será de SUVs das marcas Haval e Tank e picapes da Poer – híbridos e elétricos. Todos a partir de plataformas inteligentes de conectividade e eletrificação: modelos híbridos, híbridos plug-in e 100% elétricos.

Números robustos

Os números são atraentes. A operação brasileira receberá aporte de R$ 10 bilhões, sendo 40% disso até 2025. Serão mais de 10 lançamentos até 2025, incluindo um SUV que chega importado ainda este ano, uma rede de 130 concessionárias em 112 cidades. Das linhas de montagem, sairão 100 mil unidades por ano, absorvendo 2 mil empregos diretos. 

O que só a Toyota arriscou fazer no Brasil de forma mais contundente, com seus híbridos, a GWM quer tornar comum. “A marca oferece a experiência de dirigir um carro elétrico com a tranquilidade de ter o suporte de um motor a combustão para longas distâncias. Isso gera a potência e o torque inigualáveis do carro elétrico e um baixíssimo consumo por conta do apoio da bateria”, afirma Oswaldo Ramos, Chief Commercial Officer (CCO) da GWM Brasil.

A companhia também cutuca a concorrência ao informar que estuda parcerias para uso de etanol como fonte de geração de hidrogênio em veículos com célula de combustível. A Nissan, que faz algo similar, só deve lançar isso após 2025.

Estratégia é ousada

A ideia é chegar forte: seus carros brasileiros, promete, terão recursos de conectividade 5G e sistemas semiautônomos de segurança Nível 2 de série, além de permitir o uso do comando por voz para controlar as funções do veículo, como fechar vidros ou abrir o teto solar.

Em um segundo momento, virá a linha Ora, uma marca premium só a bateria. Começa com importação e havendo demanda vai produzir por aqui. Poderá, assim, ser a pioneira na fabricação de automóveis elétricos no Brasil, em larga escala.

Diferentemente de outras chinesas, a GWM nasce nacional, não demonstra preocupação em investir, ter em sua liderança executivos com experiência na indústria local e apostar em tecnologias ainda timidamente oferecidas pelas concorrentes brasileiras.

Chinesa quer conquistar brasileiros

Trilhar um caminho diferente de outras conterrâneas pode ser um bom indício. Afinal, foi assim que a Chery, nas mãos da Caoa, ganhou mercado, ao produzir SUVs completos e de melhor qualidade.

Até que inicie seus emplacamentos por aqui, a GWM pode ganhar tempo em relação à cisma que tradicionais consumidores brasileiros têm por carros chineses, com a chegada de elétricos da BYD, em estratégia ousada de importação.

E se tudo funcionar como planejado, quem sabe não sejam as chinesas, as propulsoras e incentivadoras de um novo momento em nossa indústria, acelerando as tradicionais montadoras de sua inércia?

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