O Proconve L7, sétima fase do programa governamental de controle de emissões de poluentes em veículos que circulam no país, fez um estrago enorme nos catálogos das empresas que vendem carros por aqui.
Inicialmente, eu estimava 59 modelos e 15 motores sendo tirados de linha por conta da legislação, que vale desde 1º de janeiro deste ano para qualquer veículo aqui produzido ou comercializado.
Uma brecha permite que automóveis e comerciais leves cuja montagem tenha começado no final do ano passado, sem finalização por falta de peças, tenham a produção concluída sob os parâmetros antigos até o fim de março, com faturamento nas lojas permitido até 30 de junho.
Na prática, muitas fabricantes já se anteciparam e tiraram de linha mais de 60 modelos ou configurações de modelos, visto que produtos como Hyundai HB20X, Hyundai ix35, Hyundai New Tucson, Mitsubishi Outlander Sport e Suzuki Jimny, que eu não havia contabilizado, entraram ou ainda podem entrar na conta.
Isso aconteceu porque o Proconve L7 não poupou nenhum tipo de veículo leve: automóveis, comerciais leves (como picapes e furgões) e utilitários a diesel (como SUVs e picapes médias) tiveram de entrar na dança. Além disso, os limites são considerados por modelo, independentemente do porte. Todos precisam cumprir um teto de:
80 mg/km de Nmog (gases orgânicos não metanos) + Nox (óxidos de nitrogênio), no caso de carros de passeio;
140 mg/km de Nmog + Nox para comerciais leves flex
320 mg/km de Nmog + Nox para utilitários a diesel
Mal passou o baque e as fabricantes já têm que pensar no Proconve L8, previsto para entrar em vigor em 2025. A oitava fase do programa estabelecerá números ainda mais rigorosos para carros de passeio, mas deve proporcionar um cenário paradoxal, muito bem explicado pelo meu colega Renan Bandeira, da Mobiauto.
Média pelo volume de vendas
De um lado, carros de passeio terão o limite de emissão de poluentes reduzido de 80 para 50 mg/km (para comerciais leves e utilitários a diesel, não haverá mudanças até 2027), mas a exigência deixará de ser individual por modelo e passará a ser por grupos de produtos. É a média desse grupo, levando-se em conta o volume de emplacamentos de cada modelo, que será usada para calcular a meta.
Por exemplo, se uma marca possui quatro carros de passeio em linha, poderá manter dois que emitem mais de 50 mg/km de Nmog + Nox em catálogo, desde que compense com outros dois que poluem menos do que o teto. Tudo será calculado através do volume de vendas de cada modelo.
Destarte, para seguir comercializando carros a combustão com projetos mais antigos e motores menos eficientes, que poluem acima do exigido, as fabricantes poderão usar truques como lançar modelos híbridos ou até 100% elétricos (que, lembremos, têm índice zero de emissões de poluentes) no mercado só para se manterem dentro da média.
Isso será permitido mesmo que os produtos eletrificados em questão tenham uma demanda baixíssima ou mesmo inexistente no mercado, pois a legislação não leva em consideração o volume de vendas na hora de fechar a conta.
Proconve L8: quatro etapas
O Proconve L8 será dividido em quatro etapas, que se sucederão após períodos de dois anos cada. Em 2027, o limite médio de emissões de Nmog + Nox para carros de passeio cairá para 40 mg/km e o de comerciais leves flex, de 140 para 110 mg/km. Em 2029, ambos serão reduzidos para 50 e 30, respectivamente. Em 2031, para 30 e 30.
Isso se a realidade de mercado permitir, pois as metas podem ser revisadas ao longo desse tempo. Já a progressão no caso de utilitários a diesel ainda não foi divulgada.
Todavia, é bom ficarmos ligados. Conforme os números arrocharem, deveremos ver uma enxurrada cada vez maior de modelos híbridos e, especialmente, elétricos sendo lançados em nosso país.
Chegarão com um discurso ecologicamente correto, de “amigos do meio ambiente”, mas sua verdadeira missão será garantir a sobrevida de carros a combustão que poluem mais e seguirão sendo oferecidos nas lojas aos borbotões.
*Leonardo Felix é jornalista especializado na área automobilística há 10 anos. Com passagens por UOL Carros, Quatro Rodas e, agora, como editor-chefe da Mobiauto, adora analisar e apurar os movimentos das fabricantes instaladas no país para antecipar tendências e futuros lançamentos.