Lucia Camargo Nunes é economista e jornalista especializada no setor automotivo, editora do portal www.viadigital.com.br e do canal Via Digital Motors no YouTube.

Os anúncios de novos investimentos para o setor automotivo sempre trazem um sopro de esperança. Mas a saída de uma marca ou o fechamento de uma fábrica ecoam de forma mais ruidosa.

Nos anos 90 a indústria vivia um boom com a chegada das chamadas newcomers: Honda, Toyota, Renault, Peugeot e Citroën construíram fábricas no Brasil e o segmento automotivo prosperava.

Os investimentos foram se multiplicando com novas marcas, entre acertos e erros. A Mercedes-Benz, por exemplo, tentou por duas vezes fabricar carros e não deu certo. A Hyundai, que tinha a marca consolidada nas mãos da Caoa, abriu sua própria planta com resultados assertivos.

A Chery, fadada ao fracasso, trocou de mãos e sob a batuta do Grupo Caoa caminha para a expansão.

Por isso, é sempre lamentável a saída de uma Ford do país, uma marca tão tradicional. O mesmo sobre o anúncio feito na semana passada, sobre o encerramento das atividades da planta da Toyota em São Bernardo do Campo (SP), onde 550 colaboradores atuam na produção de autopeças para servir o mercado interno e exportações.

Essa operação será transferida para outras unidades da Toyota, localizadas em Porto Feliz, Sorocaba e Indaiatuba, todas no interior de São Paulo.

O fechamento de uma fábrica parte de uma decisão estratégica de cada companhia, mas sinaliza, sem dúvida, uma preocupação. Não vamos fechar os olhos para esse perverso movimento.

Novos investimentos

O custo-Brasil e tantos desafios encontrados aqui servem para todos, então adicione aí que o país tem uma indústria bastante competitiva e que más gestões podem arruinar negócios.

Mas vamos olhar o copo meio cheio. Enquanto a saída é inevitável para algumas, novos ciclos de investimentos são prometidos por outras companhias.

A BMW, por exemplo, sediada em Araquari (SC), anunciou no final de 2021 investimento de R$ 500 milhões até 2024 para produção dos modelos X3 e X4, além de um novo carro que será revelado na Alemanha.

A Volkswagen, com plantas em São Bernardo, São Carlos e Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR) divulgou aporte de R$ 7 bilhões entre 2022 e 2026 no desenvolvimento de uma nova família de carros compactos, começando pelo Polo Track, um novo modelo de entrada no país.

A Renault confirmou mais uma série de investimentos para os próximos anos no Paraná: além da nova plataforma CMF-B, a produção de um novo motor 1.0 turbo e de um novo SUV. 

Tem ainda a Great Wall, chinesa que comprou as instalações da Mercedes-Benz de Iracemápolis, interior de São Paulo, e já declarou que vai injetar mais de R$ 10 bilhões nos próximos 10 anos em sua operação local, que terá apenas SUVs e picapes eletrificados, a partir do segundo semestre de 2023.

Nissan aumenta turno e investimentos

Na semana passada, a Nissan, durante o lançamento da nova picape Frontier, anunciou investimento de US$ 250 milhões em sua fábrica de Resende (RJ) para a produção de um novo modelo.

Essa planta passou a operar em dois turnos, para que sua produção seja ampliada a quase 500 unidades por dia. Com essa decisão, a Nissan gera 578 empregos diretos. “Esse investimento é parte da nossa estratégia para crescer mais que o mercado”, disse Ashwani Gupta, COO da Nissan.

Airton Cousseau, presidente da Nissan América do Sul, defende que apesar do portfólio enxuto, a Nissan tem veículos protagonistas em seus segmentos.

Carros só evoluíram

A indústria virou a página da época em que produzia carros básicos e pouco rentáveis. Hoje a eficiência, conforto, conectividade e segurança falam mais alto. Os veículos podem estar menos acessíveis, mas é inegável que evoluíram.

Este é um novo momento do setor automotivo, nesse pós-pandemia: com produtos mais refinados, tecnológicos e de maior valor agregado. Assim, atendem melhor à demanda de outros mercados e podem trazer um novo fôlego às exportações.

Não chegamos à era da eletrificação, ainda somos dependentes das importações, mas há diversas iniciativas para ampliar a infraestrutura e até investir em novas tecnologias a partir do uso do etanol. Temos o primeiro híbrido flex do mundo e outras inovações tendem a surgir.

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