Lucia Camargo Nunes é economista e jornalista especializada no setor automotivo, editora do portal www.viadigital.com.br e do canal Via Digital Motors no YouTube.

O ano mal começou e mesmo após um conturbado 2021, principalmente pela paralisação de fábricas devido à falta de semicondutores, a indústria está otimista.

A Anfavea, associação que reúne as montadoras no Brasil, projeta vendas de 2,3 milhões de autoveículos em 2022, alta de 8,5% sobre 2021. Já na produção, a estimativa é de aumentar 9,4% este ano, para chegar a 2,46 milhões de unidades.

Antonio Filosa, presidente do Grupo Stellantis para América do Sul, é uma das lideranças que declarou que a crise dos semicondutores está chegando ao fim.

Ainda assim, a recuperação mais robusta é aguardada para o segundo semestre.

Cenário mais otimista

Analisando as perspectivas, temos a favor ainda uma demanda reprimida, tanto de consumidores pessoas físicas como de um segmento que absorve altos volumes, o de locadoras. Ano passado elas compraram 400 mil carros, mas a necessidade é maior.

A idade média de um carro para as locadoras é de seis meses. Com a crise, hoje elas alugam carros com dois anos de uso. Ou seja, se faltar consumidor final, o que é improvável, as locadoras absorvem esse volume.

Um dos pontos favoráveis ao consumidor é o alto nível de renovação. Portfólios mais enxutos de veículos mais eficientes são a ordem do dia. Só entre modelos esperados, devemos ter ao menos 50 lançamentos – de estreias a atualizações (novos motores, facelifts e novos conteúdos). Outros podem surgir de surpresa, o que elevam as expectativas.

Olhando o copo meio vazio

Mesmo se as montadoras conseguirem superar os obstáculos e aumentar a oferta de veículos este ano, há alguns contratempos à vista.

Um deles é a economia não crescer e isso gerar uma insegurança, principalmente pelo receio do desemprego.

Há também a expectativa de aumento das taxas de juros, o que é sensível para o segmento automotivo: em 2021, 83% de todas as vendas (leves, pesados e motos) foram por financiamento. O termômetro ligou um alerta. No ano passado, os veículos leves registraram queda de -15% no total de vendas a crédito.

Os preços dispararam. A inflação do carro novo chegou perto de 20% no acumulado de 2021. De acordo com a martech AutoForce, o ticket médio hoje de um carro é de R$ 110 mil. Ou seja, há um ano, esse preço médio seria próximo de R$ 90 mil.

E temos ainda pela frente um duríssimo ano eleitoral, com volatilidade no câmbio e no preço de combustíveis e tendência de alta nos juros, com a inflação correndo por fora, corroendo o poder aquisitivo.

Não vai ser um ano fácil para ninguém. A indústria pode estar otimista, mas vai ter de caminhar com cautela para oferecer os produtos com maior demanda e ajustados às necessidades do consumidor.

Este, por sua vez, vai ter de caprichar no planejamento e pesar até que ponto vale a pena trocar de carro. Ou ainda considerar a compra de um seminovo ou até escolher um modelo por assinatura.

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