Lucia Camargo Nunes é economista e jornalista especializada no setor automotivo, editora do portal www.viadigital.com.br e do canal Via Digital Motors no YouTube.

A Nissan vai trazer em breve para a América do Sul e possivelmente o Brasil um sistema pioneiro de eletrificação. Trata-se do e-Power, tecnologia desenvolvida pela montadora japonesa, que inova por oferecer um veículo elétrico que não precisa ser recarregado na tomada.

Funciona assim: um pequeno volume de gasolina fornece energia para acionar um gerador, que por sua vez carrega as baterias que vão impulsionar o motor elétrico do veículo.

Ou seja, o sistema, com alto nível de eficiência, dispensa a recarga nos demorados carregadores e funciona a partir de combustão interna. Por isso, não está descartado utilizar a tecnologia flex, mas ela ainda precisa ser desenvolvida, segundo explicou Chris Reed, VP Regional Senior de Pesquisa e Desenvolvimento Nissan Americas.

Apresentação de Chris Reed, VP de engenharia para Americas, durante o Nissan Innovation Week, em São Paulo

Tudo em estudos

De acordo com o anúncio oficial da marca japonesa, feito durante o evento Nissan Innovation Week, em São Paulo, a tecnologia e-Power chega à região da América do Sul em 2023, sem detalhar países ou veículos.

Temos aí um pequeno quebra-cabeças. Entre carros que hoje já possuem essa tecnologia e-Power estão o Note (um monovolume compacto no Japão), o sedã Sentra (na China) e em breve o Kicks, fabricado na Tailândia e que será vendido no México. A fabricação naquele país ainda não foi anunciada.

A Nissan pode tomar alguns caminhos. Um deles, importar da Ásia o Kicks e-Power, enquanto desenvolve uma tecnologia flex para estrear sua produção no Brasil – que poderia ser no próprio Kicks, ou de um novo SUV médio, ainda sob sigilo, que vai fabricar em Resende (RJ).

Outras opções seriam importar via México, caso seja produzido nessa planta, e uma mais remota, por ora, produzir diretamente no Brasil.

O Nissan Kicks e-Power asiático, o mesmo que será lançado este semestre no México, rende 136 cv em seu motor elétrico e 28,5 kgfm de torque. O consumo é de cerca de 30 km/l.

Os preços são relativos conforme o mercado, mas no caso do Brasil, ficaria próximo do que custa um híbrido hoje.  

Nissan Kicks e-Power feito na Tailândia e que será vendido no México

E por que o Brasil?

Simplesmente porque é um mercado em potencial para a Nissan, carente de infraestrutura de carregadores, com consumidores sedentos por carros inovadores e mais acessíveis do que um elétrico como o Leaf e, claro, com uma fábrica que vai receber US$ 250 milhões de investimentos para expansão e novos produtos.

“A oportunidade é enorme para o Brasil. Agora, o e-Power é uma inovação global prioritária, enquanto uma inovação específica [etanol] vem em segundo lugar. Eu e Ricardo Abe [gerente de engenharia da Nissan América do Sul] estaremos no Japão no próximo mês e o etanol é uma ideia que queremos abordar para vender o e-Power no Brasil”, disse Reed.

Diferenças de cada tecnologia: elétrica, e-Power, híbrida e combustão interna

Note em testes por aqui

Uma unidade do Note e-Power, aliás, já rodou em testes no Brasil. Em 2019, a revista Quatro Rodas avaliou o modelo equipado com motor 1.2 de 3 cilindros a gasolina usado para alimentar uma bateria de 1,5 kW.

Essa bateria, então, envia a energia para o motor elétrico, que movimenta o eixo dianteiro. Em desempenho, esse motor elétrico rende 112 cv, um pouco menos do que um Kicks brasileiro com motor 1.6 de 114 cv.

Mas, em contrapartida, o torque típico dos elétricos faz a diferença: são 25,9 kgfm do Note e-Power contra 15,5 kgfm do atual Kicks flex. Em consumo, então, fica ainda mais interessante: o Note faz 35 km/l e sua autonomia passa dos 1 mil km.

Com a gasolina brasileira, que tem em sua composição 27% de etanol, os números podem ser menos favoráveis, mais ainda assim vantajosos.

Note japonês: segundo a Nissan, monovolume era o 10º carro mais vendido no Japão. Após ser lançado com e-Power é o líder daquele país

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